Inter – Monza como a Divina Comédia, atravessar as chamas do inferno para chegar ao paraíso, obviamente com dificuldade, através de uma jornada feita de perigos, imprevistos e surpresas. Na véspera do seu aniversário (hoje celebram-se 117 anos de história do clube), os nerazzurri viram-se a perder por dois golos contra o Monza, último classificado do campeonato da Serie A: em pleno drama psicológico quando, aos 44 minutos, Keita Baldé, voltando com a bola para dentro do campo, disparou um remate de direita que se infiltrou no ângulo para a dupla vantagem do Monza. Para salvar a Inter das chamas, um Virgílio inesperado, ou seja, Marko Arnautovic, que apenas dois minutos após o 2-0 de Keita abre o caminho para a reviravolta antes de regressar aos balneários: cabeceamento de Dumfries, virada de cabeça do austríaco e lufada de ar puro.
A FÍSICA QUE GOSTAMOS – Inzaghi faz as primeiras duas substituições nos balneários: Bisseck por Pavard e Carlos Augusto por de Vrij, para que Bastoni possa voltar a fazer o lado esquerdo e Acerbi o central. Movimentos que têm um grande impacto no desenrolar dos segundos 45 minutos, porque a Inter pressiona o Monza no seu meio-campo ofensivo e o próprio Bisseck será decisivo pela contribuição para o jogo e pela assistência a Calhanoglu. O turco mereceria um capítulo à parte pelo gesto técnico com que coloca novamente o jogo em equilíbrio, talento e técnica que se fundem naquele remate de trivela que impõe à bola que se adapte às leis da física, batendo no chão antes de uma nova, doce descolagem, que guia a bola para o ângulo, tornando inútil o mergulho de Turati.
ALEGRIA CONTIDA – A Inter cresce, San Siro acredita, Thuram acerta no poste, Lautaro tenta um pontapé de bicicleta, Zielinski lesiona-se imediatamente após entrar em campo, mas Inzaghi do banco escolhe Correa e não Frattesi: é um ataque. O 3-2 chega após mais uma ação insistente, com Calhanoglu em transição a descarregar a bola para o extremo, enviando Carlos Augusto para cruzar. O brasileiro regula a intensidade do remate e no coração da área de grande penalidade Lautaro perturba Kyriakopoulos, forçando-o ao infeliz desvio. Turati faz um milagre, ninguém percebe nada, o jogo continua, mas após alguns segundos o árbitro interrompe o jogo e mostra aos jogadores em campo o visor do relógio, onde está escrito: “GOLO”. A maravilhosa intervenção de Turati não impediu a bola de ultrapassar a linha, questão de milímetros, mas a reviravolta está concluída. O adepto médio da Inter deixa as bancadas de San Siro com a consciência de quem escapou por pouco, mas também com a preocupação de quem vê há algumas semanas uma equipa que está a atravessar dificuldades: Roterdão, Nápoles e Monza foram três jogos diferentes, mas com alguns pontos críticos em comum, será melhor aumentar o nível de atenção tendo em vista o regresso da Champions contra o Feyenoord e o desafio de domingo à noite contra a Atalanta.