O árbitro internacional Marco Guida concedeu uma longa entrevista à Radio CRC, na qual abordou diversos temas relacionados à arbitragem. Um dos pontos centrais da conversa foi a decisão, tomada em conjunto com o colega Fabio Maresca, de não apitar jogos do Napoli.
Fim das Restrições Territoriais e a Escolha Pessoal – Guida esclareceu que não há segundas intenções por trás dessa escolha, enfatizando que o designador de árbitros, Gianluca Rocchi, tem total liberdade para designar o melhor árbitro para cada partida. Ele e Maresca, segundo Guida, poderiam apitar em Nápoles sem problemas, e essa possibilidade já foi considerada. No entanto, ambos optaram por não fazê-lo devido à maneira particular como o futebol é vivenciado em Nápoles, diferente de cidades como Milão, onde a paixão pelo esporte se manifesta de outra forma.
“Não existem linhas territoriais que nos impeçam de arbitrar o Napoli”, afirmou Guida. “Tomamos essa decisão por considerar ser a mais sensata. Eu vivo em Nápoles e região, tenho família e quero ter tranquilidade. O futebol aqui é vivido com muita emotividade”, completou, referindo-se ao desejo de evitar pressões adicionais em sua vida pessoal.
Pressão e Serenidade – O árbitro também mencionou as dificuldades enfrentadas após cometer erros em campo: “Quando errei, não era seguro andar na rua ou ir ao supermercado. A ideia de errar ao marcar um pênalti e não poder sair de casa por dois dias para fazer minhas atividades não me deixa sereno”. Guida reiterou que a Associação Italiana de Árbitros (AIA) lhes deu total liberdade para arbitrar qualquer equipe, a qualquer momento.
Sobre a possibilidade de apitar uma final da Liga dos Campeões em Munique, Guida descartou a hipótese para breve, devido a uma lesão que o afastou dos gramados por um tempo. No entanto, admitiu que essa pode ser uma meta para o futuro.
Violência Contra Árbitros – Outro tema importante abordado por Guida foi a violência contra árbitros, especialmente os mais jovens. Ele expressou sua solidariedade a Diego, um árbitro de 19 anos agredido em uma partida na Sicília, e condenou veementemente o ataque. “É um ataque vil, covarde e repugnante”, disse Guida, lamentando a forma como a mídia e alguns setores da sociedade retratam o árbitro como um “inimigo a ser insultado”.
Guida criticou a atitude de pais que insultam árbitros mirins durante jogos de categorias de base, ressaltando o impacto negativo desse comportamento na educação dos jovens. “São jovens que fazem este trabalho por paixão e respeito às regras, para um dia se tornarem árbitros de Série A, e são insultados do início ao fim da partida”, desabafou.
Experiência Pessoal e Respeito – Compartilhando sua própria experiência nos campos de várzea, Guida reconheceu ter sido alvo de insultos, mas destacou que essa vivência o fortaleceu. Ele manifestou indignação ao relatar o caso de uma mãe que gritava “vendido” para um jovem árbitro durante uma agressão. “Esses jovens arbitram por 30 euros por jogo, por paixão e respeito às regras. É preciso que todos no mundo do futebol reflitam sobre isso”, concluiu.
Guida também mencionou uma nova regra que será implementada em breve, permitindo que apenas o capitão de cada equipe converse com o árbitro, visando aumentar a responsabilidade dos jogadores em relação ao comportamento em campo.