“E nos meus tempos? Calma, não quero bancar o velho gagá. Não é assim em todos os lugares. Na Espanha, eles defendem a identidade, apostam também nos jovens. E por isso vencem. Aqui você assiste a um jogo da Série C e depois muda para um da Série A e — com algumas exceções — é tudo igual, padronizado, sem emoções. Não, não gosto desse futebol. Há quarenta anos, mesmo sem ganhar nada, meu Pescara divertia. Durou pouco, porque na frente estavam os verdadeiros times fortes. Mas tínhamos uma ideia, jogadores jovens que eram felizes. E isso se via”.
“Meu scudetto? Explico rapidinho: ganhei em um restaurante em Nápoles. Não estou inventando, há testemunhas. À mesa, depois de um jogo, Diego Armando Maradona vem até mim e me diz: você tem que vir para cá e treinar o Napoli. Se isso não é um scudetto. Luciano Moggi ficava me dizendo: Giovanni, não assine com ninguém, hein, por favor. Vamos mandar o treinador embora (Ottavio Bianchi, ndr) e você vem. E eu enrolando o engenheiro Viola que tinha o contrato pronto para a Roma. Enrola daqui, enrola dali, no fim a Roma desiste — com razão, se cansaram de esperar — e no Napoli, caso raríssimo, mandaram embora os jogadores que não queriam o treinador. Talvez o único arrependimento. Não, aliás, há outro”.
“Em Viena, o Milan ganha a segunda Copa dos Campeões, é 1990. Convidado por Arrigo Sacchi, vou ver o Milan vencer e depois, no hotel da festa, conheço Silvio Berlusconi. Ficamos até as 5 da manhã conversando sobre futebol. E ele me diz: Galeone, me ligue, precisamos continuar essa conversa. Nunca levantei o telefone: esperava que ele o fizesse. E assim, o que poderia ter sido, não foi. Mas a vida seguiu em frente e foi uma vida bonita também. Eu conversava sobre futebol com Gigi Riva, Fabio Capello. E Pierpaolo Pasolini, que vinha a Grado no verão para fazer tratamentos de areia. Coisas que ficam guardadas. Havia educação, respeito, cultura. Hoje, há analfabetos que se acham catedráticos. E no futebol é a mesma coisa. Vá explicar isso para o pessoal do Milan: mandam embora gente como Maldini e Massara — entre os melhores que existem — e colocam Ibrahimovic. Grande jogador, sem dúvida. Mas que dirigente ele é? Que clube se tornou aquele Milan? E exemplos há milhares”.
“Então, está tudo perdido? Não. O Como, por exemplo, tem um dono estrangeiro, mas dá para ver que tem uma identidade própria. Gosto muito do Fabregas. Nico Paz é muito bom. Mas há jogadores demais que se acham grandes e não são. Arrogantes e presunçosos. Eu vi Zico, digo Zico, ficar no frio de Udine depois do treino por uma hora sozinho chutando faltas contra a barreira de madeira”.
“Quem ganha o scudetto? Sei lá. Inter, claro. O Napoli pode lutar até o fim. Se tiver sorte, o Atalanta também, mas é difícil. Depois, para baixo, mal, mal. A Juve? Só digo isto: dá um milhão líquido por mês para Vlahovic, talvez o único jogador eslavo — e eu entendo disso, os adoro há 80 anos — que não sabe dominar uma bola: não consegue mesmo. Quem sabe agora com a chegada de Tudor. Do Milan já falei. A Roma? Depois de meses entenderam que precisavam de Ranieri. Agora não podem errar no próximo treinador”.
“Allegri? Seria muito bom. E desejo isso a ele. Embora eu tenha ficado bravo com ele. Por um tempo, ele me ligava e eu não queria atender. Tinha ficado muito preguiçoso. Ele tem que treinar, é muito bom. Quem sabe, talvez eu esteja exagerando. Talvez não dependa só dele. Não chega o convite certo. Se eu fosse o Milan, o contrataria correndo. Mas depois nos falamos e ele me disse que não quer ir para lá. É isso: na Roma eu o veria muito bem. Mas vai saber. Eu não entendo mais nada desse futebol”.