Marcello Lippi, renomado treinador campeão mundial pela Itália em 2006 e figura histórica da Juventus, onde conquistou cinco títulos do Campeonato Italiano e uma Liga dos Campeões, concedeu uma entrevista a Maurizio Crosetti do jornal Repubblica. Na conversa, Lippi abordou diversos temas, com foco especial na sua trajetória na Juventus.
Recordando o primeiro título italiano com a Juventus, há quase trinta anos, Lippi comentou: “Representávamos a modernidade no futebol. Acredito que aquela equipe personificava a minha filosofia de jogo: agressividade em todos os setores do campo, organização tática, mas sem a obsessão excessiva que vemos hoje em dia. Contava com jogadores extremamente dedicados e dispostos ao sacrifício. O mais desafiador é compreender a mentalidade de cada jogador e trabalhar o aspecto psicológico. O talento em campo é facilmente perceptível”.
Sobre a singularidade da Juventus, Lippi destacou: “O que torna a Juventus tão especial? Sua história rica e a competência das pessoas que a gerenciam. A verdadeira dimensão da Juventus só é compreendida por quem está dentro do clube. É inegável que a Juventus é o time mais amado, mas também o mais odiado, justamente por ser tão vitorioso e, por vezes, considerada ‘antipática’. E eu afirmo: é ótimo ser antipático quando se vence tanto. Quanto ao Scudetto, não me surpreenderia se a Juventus voltasse a brigar pelo título”.
Questionado sobre o maior jogador com quem trabalhou, Lippi hesitou: “É difícil escolher um só. Se menciono Del Piero, automaticamente penso em Zidane, e vice-versa… E não posso esquecer de Vialli, que faz muita falta: generoso, espirituoso, inteligentíssimo, um craque completo e muito divertido. Conte também foi fundamental, um verdadeiro ponto de referência. E ainda Pirlo, Nedved, Totti, Gattuso, Buffon… E Roberto Baggio, sem dúvida, um dos maiores da história”.
Lippi desmentiu os rumores de desavenças com Baggio: “Inventaram muitas histórias sobre uma suposta rivalidade entre nós, o que é uma bobagem. Os maiores jogadores que não tive a oportunidade de treinar? Maradona, Messi e Van Basten, certamente. Embora Pelé, que só vi pela televisão, tenha sido o maior de todos”.
Refletindo sobre a geração de 2006, ano do tetracampeonato mundial da Itália, Lippi expressou: “Espero que os jovens de hoje busquem no YouTube os vídeos das partidas daquela Copa do Mundo. A maior alegria da minha carreira foi proporcionar felicidade a tantas pessoas. Ser técnico da seleção italiana é como ser o Presidente da República: você representa a todos. E sei que jamais seremos esquecidos”.
Ao ser perguntado sobre nostalgia, Lippi concluiu: “Deixei os gramados há cinco anos e, sinceramente, não sinto falta do banco de reservas. O que eu fazia em 1982, na final de Bernabeu? Assistia e aprendia. Aquela seleção italiana, tão agressiva e perfeita, foi uma das minhas maiores inspirações”.