Igli Tare sabe o que o espera. Após dois anos de pausa, o chamado de um clube da importância e relevância do Milan representava uma oportunidade demasiado grande para não regressar ao círculo principal. Uma responsabilidade indubitável que, no entanto, também acarreta um desafio ainda mais pesado: restabelecer no clube rossonero uma certa metodologia na gestão da área desportiva, que nos últimos dois anos se perdeu e gerou consequências hoje bem visíveis.
Os casos marcantes de Theo Hernandez e Mike Maignan, por motivos diferentes, são a demonstração clara de que o trabalho que espera Tare nos próximos tempos será extenso e nada simples. Muito mais grave e impactante do que o mau desempenho da equipa na última temporada, muito mais penalizador do que a perda de uma montra como a Liga dos Campeões e muito mais determinante do que a desestruturação sistemática de uma equipa que tinha conseguido reencontrar alguma competitividade pelo menos na Serie A, é a forma como a atual direção do Milan escolheu relacionar-se com algumas das peças mais centrais do balneário.
Jogadores que contribuíram para recolocar a equipa rossonera em altos níveis, mas que, há vários meses, entraram numa fase de clara rutura com as figuras de topo do clube. E que, verosimilmente, já após a saída de uma figura de referência como Paolo Maldini, começaram a nutrir algumas dúvidas sobre o projeto técnico.
Theo Hernandez, apesar de um rendimento em campo que tem vindo a decair constantemente desde a temporada do Scudetto de Pioli, viu as negociações para uma potencial extensão de contrato, que termina em junho de 2026, interrompidas há algum tempo. Assistiu como espectador, no passado janeiro, à eventualidade de uma transferência para o Como a meio da época. E, mais recentemente, viu-se oferecido ao Al-Hilal do novo treinador Simone Inzaghi, após ele próprio ter sondado sem sucesso a hipótese de um regresso ao Real Madrid. Novamente no centro dos rumores de mercado devido às especulações sobre o Atlético de Madrid, o lateral francês corre o risco, a longo prazo, de se tornar um problema muito maior para o Milan: sem acordo com outro clube, não se pode excluir a “pior” das hipóteses, ou seja, uma saída a custo zero no verão de 2026.
Um dano técnico ao qual se soma um de natureza económica. Um cenário que corre o risco de se repetir concretamente no caso de Mike Maignan, relançado por um final de temporada após uma parte central que não esteve à altura do seu estatuto e investido pelo último treinador Sergio Conceição no papel de capitão. Um estatuto que o próprio Massimiliano Allegri estaria disposto a reconhecer-lhe, não fosse o facto de o guarda-redes da seleção francesa ter outros planos em mente.
O assédio do Chelsea (que não quer ceder ao pedido de 25-30 milhões de euros pelo seu passe), em busca de um guarda-redes mais fiável do que os que se sucederam durante a temporada, não o deixa indiferente: em cima da mesa está a perspetiva de não sair dos radares da Liga dos Campeões, que o Milan não pode garantir pelo menos para o próximo ano, e, obviamente, a de receber um salário à altura do seu trabalho. Esse salário que da Via Aldo Rossi tinha sido primeiramente aprovado – 5 milhões de euros – e depois nunca oficialmente confirmado. O suficiente para gerar a impaciência de Maignan e do seu entourage, levando-o hoje a ver-se mais fora do que dentro do Milan. Apesar das tentativas insistentes de Allegri para o fazer voltar atrás.
Não se fala nisso há algum tempo, mas isso não significa que a notícia do impasse na renovação de contrato também de Christian Pulisic, de há algumas semanas, tenha caído no esquecimento. Quando o assunto Reijnders ainda não tinha entrado na sua fase mais quente com o Manchester City e quando a nomeação de Massimiliano Allegri como treinador ainda estava distante, o jogador americano tinha manifestado algumas perplexidades quanto à sua total partilha do projeto técnico em curso.
Incompreensões, distâncias e equívocos que só podem surgir quando as relações humanas entre as partes não seguem as lógicas e dinâmicas naturais que ocorrem dentro de uma equipa de futebol. Onde a valorização da pessoa, antes mesmo do atleta, é um conceito que não pode ser desvalorizado como demodé.
A escolha de apostar num diretor desportivo “tradicional” como Igli Tare é talvez a primeira admissão de culpa em relação aos muitos erros – Furlani dixit – cometidos durante a última desastrosa temporada do Milan. Ao dirigente albanês e a outro homem experiente como Allegri, cabe a tarefa de trazer de volta a normalidade à casa rossonera. E tentar evitar o pior, nos casos de Maignan e Pulisic, antes que seja demasiado tarde.