Entre os torcedores da Atalanta, há quem tenha proposto erguer uma estátua para Gian Piero Gasperini. E não é por acaso que se pensa nisso. O que está a acontecer em Bérgamo sob a liderança de Gasperini – carinhosamente apelidado de “Gasp” pelos seus adeptos – é realmente notável. A gloriosa vitória da noite passada no Allianz Stadium (onde o Atalanta dominou completamente a Juventus de Thiago Motta, vencendo por 4-0, com golos de Retegui de penálti, De Roon, Zappacosta e Lookman) reavivou e reacendeu os sonhos da equipa de Bérgamo que, após a triunfante temporada passada – que culminou com a vitória na Liga Europa – agora pretende elevar ainda mais a fasquia, tentando concretizar aquele pensamento maravilhoso chamado Scudetto. E surge aqui a questão fundamental: pode realmente a Atalanta acreditar neste objetivo?
A FORÇA OFENSIVA DE GASPERINI – O trabalho de Gasperini, nos próximos anos, será certamente estudado e analisado em profundidade. Se a Atalanta está a atingir os picos mais altos da sua história futebolística, deve-se também ao grande conhecimento deste desporto do seu atual treinador. Numa mistura de jovens talentos, jogadores de absoluta confiança e experiência e apostas ganhas, Gasperini conseguiu criar um plantel sólido, ofensivo e, acima de tudo, vitorioso. E por falar em fase ofensiva, existem alguns dados (reportados pelo Sofascore) que podem ajudar a perceber o quão a Atalanta é agora a máxima expressão do nosso futebol. Os jogadores de Bérgamo, de facto, entre os três candidatos ao Scudetto, são a equipa que marcou mais golos por jogo (2,3, tal como o Inter), que criou o maior número de grandes oportunidades por jogo (3,5, em comparação com os 3,4 do Inter e os 2,2 do Nápoles), que realizou o maior número de remates à baliza adversária (5,7, 5,5 o Inter e 4 o Nápoles) e que efetuou a maior quantidade de dribles bem-sucedidos com 6,8 (ao contrário dos 6,6 da equipa de Conte e dos 3,9 dos homens de Inzaghi).
DUAS FIGURAS CHAVE – É claro que grande parte desta perigosidade ofensiva se deve precisamente a dois jogadores que literalmente floresceram sob as mãos de demiurgo de Gasp, nomeadamente Mateo Retegui e Ademola Lookman. O ítalo-argentino ex-Génova atingiu os 22 golos na Série A, subindo para o segundo lugar da tabela da Bota de Ouro (com 44 pontos) atrás do quase inatingível Mohamed Salah e, acima de tudo, a um passo de escrever uma página da história indelével no futebol do Atalanta: Retegui, de facto, aponta aos 24 golos da temporada ’96/’97 de Filippo Inzaghi, melhor marcador de sempre numa única época com a camisola do Atalanta. Um feito que o projetaria para o Olimpo dos goleadores na sua primeira temporada aqui em Bérgamo. E Lookman? O abraço de ontem parece ter resolvido a crise vivida com Gasperini, após as críticas públicas pós-eliminação da Liga dos Campeões com o Bruges. Um recomeço importante, provavelmente definitivo entre os dois, que sela o regresso de uma dupla de sucesso que pode levar o Atalanta ao topo. E um Lookman assim praticamente nunca se viu: os golos do extremo nigeriano já são 13 no campeonato, tantos quantos na temporada 2022-23, ou seja, o seu recorde numa única época nos cinco principais campeonatos europeus. Agora Lookman tem dez jogos para melhorar, dez jogos para continuar a fazer sonhar o seu Atalanta.
ENTRE CALENDÁRIO E UM RENASCIMENTO PRIMAVERAL – E por falar nestes dez desafios, como é o calendário dos homens de Gasperini? Confrontos em mãos, o Atalanta tem uma primeira parte realmente complexa para enfrentar: Inter, Fiorentina, Lazio, Bolonha e Milan nas próximas cinco jornadas. É certo que os nerazzurri estão envolvidos em outras duas frentes, os viola têm a Conference, os biancocelesti a Liga Europa e o Milan a Taça de Itália, mas continua a ser um calendário difícil com o qual lidar. Mas é preciso ter em consideração dois fatores: em primeiro lugar, o Atalanta terá apenas a Roma como possível grande jogo, enfrentando Lecce, Monza, Génova e Parma nas últimas cinco jornadas. Em segundo lugar, está a chegar a primavera, a estação em que os jogadores de Bérgamo florescem mais do que nunca. Basta olhar para o ano passado, onde a Deusa mudou literalmente de velocidade: de 30 de março em diante, sem contar o jogo em atraso contra a Fiorentina (disputado no final do campeonato), o Atalanta somou 7 vitórias, um empate e apenas uma derrota em 9 jogos. Repetir um score semelhante significaria realmente colocar o Scudetto na mira. De resto, Gasperini também já o disse: “As pessoas devem sonhar, nunca se deve tirar os sonhos aos adeptos. Nós dissemos que é sempre uma coisa impossível: mas se acreditarmos fortemente, as coisas podem mesmo tornar-se possíveis”. E então é inútil esconder: o Atalanta é um sério candidato ao Scudetto.