Javier Tebas, o atual presidente de LaLiga, concedeu uma entrevista à Rádio XXIII, da Fundação Juan XXIII, onde abordou abertamente vários temas relevantes para o futebol espanhol. Entre os tópicos discutidos sem rodeios, destacam-se as constantes polémicas envolvendo a arbitragem, o controverso projeto da Superliga europeia, a questão da pirataria no futebol e os seus frequentes desentendimentos públicos com o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez.
Sobre a controvérsia contínua em torno do nível da arbitragem em Espanha e os incidentes recentes, Tebas deu a sua opinião. Ele afirmou que a maioria dos clubes se queixa dos árbitros apenas pontualmente, talvez “uma ou duas vezes por ano”, enquanto o Real Madrid, muitas vezes através da Real Madrid Televisión, o faz “todas as semanas”. Mencionou um incidente antes da final da Copa del Rey, onde a atitude do Real Madrid (filtrar que não compareceriam e depois dizer que sim) não foi construtiva. Sublinhou que os árbitros são pessoas e talvez as conferências de imprensa antes dos jogos não devessem ocorrer.
A questão da Superliga europeia também foi abordada. Tebas comentou que é um projeto que, na sua visão, “destruiria o futebol profissional espanhol e europeu tal como o entendemos”. Descreveu-o como um “modelo elitista” focado numa “oligarquia” que faria com que o futebol de clubes menores “diminuísse muito”. Criticou o facto de terem apresentado três modelos de competição diferentes em três anos, considerando o “modelo desportivo um disparate”. O objetivo subjacente, segundo ele, é uma oligarquia que repartiria apenas as “migalhas” pelos outros clubes.
Tebas continuou a sua defesa contra a pirataria. Questionou a ideia de que a maioria dos piratas não pode pagar para ver futebol, argumentando que o acesso “não é tão caro como se diz”. Mencionou exemplos de pacotes de telecomunicações que incluem acesso ao futebol ou serviços como a DAZN, onde se pode ver cinco jogos por 19 euros. Calculou que uma família poderia ver futebol, incluindo a Champions League, por cerca de 60 euros por mês, o que equivale a 15 euros semanais ou cerca de 2 euros diários. Reconheceu que pode ser caro para alguns, mas insistiu na necessidade de considerar toda a estrutura da indústria, que, segundo ele, está “em perigo devido à pirataria”.
Finalmente, o presidente de LaLiga falou abertamente da sua relação com Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, descrevendo as suas posições como “irreconciliáveis”. Afirmou que estão “nas antípodas” no conceito de futebol profissional. Enquanto Pérez quer um futebol “elitista, de oligarquia”, onde “o Madrid (e um pouco o Barcelona) geram tudo” e os outros “têm que recolher as migalhas”, Tebas discorda fundamentalmente. Embora considere Pérez um ótimo gestor de clube, distinguiu essa capacidade da gestão de uma competição ou indústria inteira. Concluiu que as suas posturas são irreconciliáveis porque representam “dois modelos de futebol absolutamente diferentes”.